quarta-feira, 10 de abril de 2019

(Varia) L'Arpeggiata - Athanasius Kircher (1602-1680) - Tarantella Napoletana, Tono Hypodorico

Dessa vez, apenas transmito uma breve composição musical feita por Athanassius Kircher (1602-1680), um estudioso alemão e jesuíta, cujas maiores contribuições estão no estudo da religião comparada. Kircher é atualmente uma fonte importante para o estudo dos coptas, tendo sido o pioneiro na construção da gramática copta (Prodromus coptus sive aegyptiacus, de 1636).

Sua composição abaixo é uma Tarantella, um tipo musical napolitano que recebeu o nome por uma relação com o efeito do perigoso veneno da aranha tarântula; dizia-se que, uma vez picada por uma tarântula, a pessoa se punha a dançar no ritmo desse estilo. Os intérpretes são do grupo Arpeggiata.

Essa composição é uma magnífica síntese ocidental. Modelada em cima da rica matéria-prima cultural italiana (e espanhola, se considerarmos ainda as castanholas), por uma tipicamente muito sublime, profunda e polida mente germânica, talvez inspirada pelo que há de maravilhoso e de rico na história antiga e médio-oriental.


segunda-feira, 1 de janeiro de 2018

(POEMA) A Short Mission of Beauty

Aleah
From somewhere distant
comes a voice from without
delivering a message
into my soul, a whisper.

Clad in words and sounds
something different she speaks
and no one acquaints
but directly by soul.

A breath, a phantom of voice,
a ripple of memories from anywhere
moans down here and there
-- a spark who awakens and toils

disturbing men, demons and gods,
lifting them by only mots
which sink bright into the earth
to disperse chaos and dark.

Eternity comes true
and life turns a dream;
death, only a mean
for this goddess Beauty.

Yes I can breath
thee entirely;
while thou speakest to me
I merge, Aleah.

From night skies thou fallest down here,
sparkling stars from ether
the smoothing cold God's face,
to us affordest a painful Starbridge
(to walk, to think, to love and die through).

Creation for god is an instant
as for it into itself is his message,
everything in a trance we grasp,
in our heart everything is intimate.

So thou came to shine
and stayed for short,
put the world in lost
and departed to Light.

Up is down and down is up,
left is right and right is left,
death is life and life is death,
in this way all is sure:
by thy side I will be fine,
by thy side god ever shines.[01/01/2018]

Em memória de Aleah Liane Stanbridge (Starbridge). Não a conheci, mas sua voz, seu rosto e seus poemas, gravados em músicas, além de serem de uma beleza incomum são de alguma forma muito familiares e misteriosos, e de alguma forma profetizam seu estranho destino. Veio e foi-se jovem, feito uma centelha que desceu apenas para estalar uma mensagem e recolher-se à sua morada original. Nem todos descem sem missão.

domingo, 25 de junho de 2017

(POEMA) Teu Nome Inefável

Álvaro Hauschild

Teu nome eu respiro
nos ventos da aurora
e o fogo sem demora
me inflama o espírito.

Preciso dizer teu nome
às flores e macieiras do jardim,
mas não consigo dizer o que está em mim,
ó, esta maravilha incessante!

Permitiriam-me os anjos dizê-lo?
Não dizê-lo é doloroso
quando o nome amoroso
é da amada esquecida e dormente.

Morre o mundo por dormir
do amor o centro lácteo
que nutre o mundo ordenado,
ó, linda, dona de mim!

Desperta e olha nos olhos meus
vida pura e flamejante,
reflexo no teu amante
da vida e do amor que é teu!

Com teus olhos, me olhando,
então dizes o inefável,
o qual dizer é necessário:
teu nome, nós nos amando. [24/06/2017]

segunda-feira, 19 de junho de 2017

(POEMA) Deusine

Karl Wilhelm Diefenbach

Das lâmpadas odeio a luz,
amo a das velas e ainda mais a da lua,
amo ver nelas minha amada nua,
a quem estas luzes todas me conduzem.

Dos homens todos odeio o barulho,
amo o dos trovões e ainda mais o do silêncio,
amo sentir neles da minha amada a presença,
que me leva para casa, dentro do seu útero.

De toda a humanidade odeio a atividade,
amo o sossego e ainda mais o recolhimento,
amo inspirar neles da minha amada o alento,
minha vida pura, pura felicidade.

As vozes do mundo todas odeio,
amo a solidão e ainda mais o vazio,
amo deitar com minha amada no frio,
mergulhar meu espírit' em seus alvos seios.

Odeio com os homens à mesa comer,
amo o alimento do belo e sublime,
amo as delícias da minha amada Deusine,
pelas quais meu corpo deixo morrer. [19/06/2017]

quinta-feira, 15 de junho de 2017

(POEMA) Wie die Blumen Wieder Kamen

Konstantin Vasiliev
Auf dem Feld lauft ein Kind,
das ein Speer in die Hände hat
und stark zu den Wind
schreit es, um die Götte rufen an...

Da kommen die Götte alle heraus,
die das Kind eine Frage lassen:
“was suchst du unser Kind, so schwach und allein?
Du bist d' erst in tausende Jahren...”

“Ein Mädchen, das ich sehr viel liebe,
ist krank, und sie sagen, dass es sterben muss;
aber die Welt kann nicht ohne seinen Kuss.
Was kann ich tun?”, kommt es, um zu bitten.

“Uns'r liebes Kind”, sagen die Götte im Feld,
“das Mädchen, von dem du jetzt sprichst,
aus (dem) Tod das schreckliches Fleisch isst
und kein Medizin kann das Mädchen helfen.

Du kannst aber dein Leben gut nehmen:
währen du lebst, du darfst ein Schloss haben,
berühmt und ansehnlich sein von allen,
und niemal von die Krankenheit errecken”.

So antwortet das Kind: “ohne den Kuss,
den gibt das Mädchen, kann nicht der Fluss
in meinem Schloss schönen fliessen,
auch nicht die Vögelein fliegen,
die Sonne im Himmel mir scheinen...
ohne es gibt es nichts von meinen.

Geb mir den Tod, die fürchterliche Fleisch;
die Welt will in Ginnungagap zurück-sterben;
die Blumen blühen nicht in die Reich von Melkor;
Eros kann aber nicht ohne Psychê bleiben...

da mach, dass mir der Donner kommt...!”
Und mit seinem Speer starrt es auf sein Herz.
Das Blut durch die Welt macht, dass neue Meere
und neu' Erde für alle kommen.

Die erste Blumen blühen aus,
um die Sonnens Scheinen erreichen,
wo das Blut auch erste kam – Heiss!
– von einem Geist und Herz raus. [12-16/02/2017]

sexta-feira, 9 de junho de 2017

(POEMA) O Vale Remoto

Hans Dahl

No vale remoto, em meio a silentes
picos nevados cobertos por coníferas
que guardando verdejam secretos sonidos
ouvidos por todos e por flores e abelhas,
desce um riacho tilintando suave
percorrendo os campos de flores repletos,
e de musgos, e liquens, gramíneas completos,
e descendo do alto se perde e se vai...

Apolo do alto, iluminando secreto,
toca dourado no campo sozinha
fiel e farta macieira amorosa
dando frutos a mãe generosa
à bela Urânia, amor d'uma vida...

Urânia, Urânia, corpo celeste,
de estrelas longínquas é feita tua pele;
teus olhos brilhantes o riacho te deu
das águas frescas que o céu as bebeu;
longos, muito longos, finos e leves
são de ouro os fios tecidos,
no ar dançando e mostrando o caminho
a mim, que longe poderei me perder do paraíso,
da tua alma feitos, luminosa e cristalina...

Mas desce correndo também do castelo
para os campos, até nós, se misturando
e perdendo entre as flores mirantes,
e seus risinhos com o tilintar fresculento
do riacho se confundindo e fundindo,
desce ali graciosa nosso fruto
saído do ventre celestial, do tudo,
desce ali Ágata, a da beleza detentora
para quem mil olhos com mil lágrimas
suficientes não seriam na alegria redentora.

No alto do vale remoto, por Apolo desenhado
guincha sobrevoando um pássaro observado. [09/06/2017]

segunda-feira, 1 de maio de 2017

(POEMA) Florzinha sob o Caos

Arno Brecker

Ó doce florzinha,
tão pálida e pequenina,
tão frágil, ó menina,
qual é o segredo que germina
e existência te dá,
e resistência também,
neste mundo onde vão e vêm
a dor, a morte, a impermanência e o caos?

Ó minha anjinha,
tão sensível e tão levada,
quando os ventos mornos
te levarem para longe
e então te abandonarem,
o que farás em meia-estrada
sozinha, indefesa e machucada?

Ó livre andorinha,
princezinha dos céus,
por que te vais sempre mais longe
em busca do alaranjado,
no horizonte açucarado,
se o sol é o mesmo todo dia
e encontrarás apenas a noite?

Ó transparente cristal,
por que te maculas te afundando
na lama, te fazendo perder
em movediça areia decaindo,
para onde te encontrar ninguém
poderá, nem mesmo querendo?

Ó filha de Selene,
luz fria e tenebrosa,
ó minh'alma manifesta
em doçura amorosa,
assim tão longe não te percas,
assim tão grave não te machuques,
assim tão feio não de mudes,
assim tão dolorsamente
não me mates. [01/05/2017]