quinta-feira, 1 de agosto de 2019

(POEMA) Lava que Canta

Michelle Pier

Sete dias em fechadas matas
o herói procura sua amada,
mas não aparecia nenhuma luz;
de escuridão em escuridão ele andava
até que de repente: zhuhz!
Com um estrondo iluminou-se
e piscou uma trilha em transe.

De novo reina o escuro,
mas dessa vez junto de um barulho...
terrestre, grave, profundo, e algo ruge
muito quente mais adiante
e um canto, suave, também surge.

De doçuras fala a cantiga,
embora de língua desconhecida
e de palavras que não se entende.
Apenas ouvindo é que se apreende
o conteúdo de beleza pura;
suave e virgem, mas carregado e muito quente
ele promete alguma cura.

Nosso herói, um pobre cavaleiro buscador,
descobre então de onde vem tanta flor.
De um penhasco em vermelho,
sob um céu também sangrante,
brota, líquida, a tanto buscada amante,
de cujo seio, sublimando, sopra um único conselho.

Perfeita, ardente, absoluta, tenebrosa
é a substância primeira e última,
a razão de todos os cultos,
a paixão de todos os vultos,
a direção de todos impulsos.

Chamado e convocado,
nosso herói se oferece
e se atira lançando uma prece,
e mergulha, e se afunda, e fenece. [01/08/2019]

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