sábado, 19 de fevereiro de 2022

(VARIA) Sublime e Romantismo

Caspar David Friedrich

Nesta página, alguns vídeos muito elucidativos sobre o conceito de sublime e o movimento que nós conhecemos como "romantismo" -- um movimento com pretensões particulares sobre os campos filosófico, cultural, científico, político, religioso, espiritual circunscrito ao período moderno pós-renascentista no qual se debatia contra correntes como iluminismo e classicismo.

De modo geral, o romantismo é um movimento que faz um apelo especial às paixões, à vida e à natureza, em suma, a um espécie de primitivismo ou um retorno aos instintos primordiais, contra uma civilização que vive a revolução industrial e as revoluções burguesas. Os românticos acreditavam que o desenvolvimento da indústria, a urbanização e a proeminência do dinheiro tornava a sociedade e os indivíduos doentes. Claro que um pouco depois, ao longo do século XIX, o romantismo foi aos poucos se mesclando com vertentes futuristas e industrialistas quando associadas aos nacionalismos, como é o caso paradigmático de Richard Wagner. No século XVIII e no início do século XIX, contudo, o romantismo ainda se coloca de modo crítico a estas vertentes, e o debate é centrado na querela contra iluministas e classicistas.

Sublime: The Aestethics & Origins of Romanticism (Alliterative) apresenta a construção do conceito de sublime, o principal dentre aqueles que constituem a base do movimento romântico. O conceito de belo também é importante, mas ele sozinho não caracteriza o romantismo e mais propriamente está ligado ao rococó.



Burke on: The Sublime (The School Of Life) discute o conceito de sublime segundo Edmund Burke (1729-1797), autor inglês que emprestou seu conceito de sublime ao alemão Immanuel Kant (1724-1804), que então desenvolveu-o para o público alemão em sua estética e em seu idealismo, inaugurando um vasto movimento intelectual e cultural na Europa central.



What Friedrich Can Teach Us About The Sublime (The Canvas) nos proporciona um momento de contemplação para entender o que o conceito de sublime significa na arte de Caspar David Friedrich (1774-1840), um dos maiores expoentes do romantismo alemão na pintura. É preciso entender, ainda, que o sublime de Friedrich não é exatamente o mesmo do de Burke e do de Kant, porque sempre que um autor ou um artista absorve alguma ideia ele acaba também emprestando algo de seu para o conceito. É possível notar como, para Friedrich, o sublime está diretamente ligado à natureza, ao passado, à melancolia e, ainda, à própria Alemanha.



HISTORY OF IDEAS: Romanticism (The School of Life), sintetiza o movimento romântico e suas implicações na cultura, na arte e na política.



The Dark Philosophy of Cosmicism - H.P. Lovecraft (Eternalised) é um vídeo extra nesta série e discute o cosmicismo de Howard Phillips Lovecraft (1890-1937), no qual hoje os críticos tendem apontar uma forte influência de Edmund Burke sobre Lovecraft. Aqui o sublime adquire a faceta do poder, e está associado à experiência de vulnerabilidade que o homem tem diante de um universo que é imenso e incompreensível, por isso temerário. O assombro encontrado em Burke se torna, em Lovecraft, em horror, em pavor, em terror.



domingo, 14 de novembro de 2021

(VARIA) Vikings and Death, Lectures by Neil Price (2012)

Baldur, por Elmer Boyd Smith

Abaixo, uma das mais belas palestras disponíveis sobre os povos germânicos da época das grandes invasões, com o professor Neil Price, um dos mais importantes arqueólogos sobre a "era Viking", feitas em 25 de setembro de 2012 em Cornell University, NY. Ao longo de três apresentações, o pesquisador discute mais especificamente sobre a relação (cultural, espiritual, religiosa) que os Vikings tinham com a morte entre os séculos 8 e 11 d.C.

The Children of Ash: Cosmology and the Viking Universe



Life and Afterlife: Dealing with the Dead in the Viking Age



The Shape of the Soul: The Viking Mind and the Individual

domingo, 31 de outubro de 2021

(VARIA) Dead Sea Scroll/ Satan/ Gnosticism

John Martin

Recentemente eu publiquei neste blog[1] alguns vídeos sobre hermetismo, misticismo cristão e Gênese. Hoje eu vos deixo outros vídeos que giram em torno de uma temática não menos interessante: a luta entre luz e escuridão, o apocalipticismo da antiguidade tardia e que é objeto de um amplo e profundo interesse na literatura científica contemporânea. Como é um tema que, da perspectiva científica, se torna facilmente corrompido quando atinge o grande público, vale a pena considerar o a absorção de conteúdo a partir de canais sérios, fundamentados em pesquisa histórica.

Dead Sea Scrolls -- The War Scroll -- Apocalyptic War Against Belial and the Sons of Darkness (canal ESOTERICA) trata sobre os pergaminhos encontrados em cavernas de Qumran, no Deserto Judaico, datando de aproximadamente entre 50 a.C. e 50 d.C., e que descrevem, em meio a outras coisas, uma batalha apocalíptica entre duas forças antagônicas, i.e. as da luz e as da escuridão.


The Origins of Satan (canal ReligionForBreakfast) discute a origem histórica do conceito de Satã/Diabo, datada na antiguidade tardia. Neste vídeo o autor cita os Dead Sea Scrolls e remete a uma origem zoroastrista tanto para os pergaminhos quanto para o conceito de Satã.


What is Gnosticism? (canal Let's Talk Religion) discute as doutrinas usualmente concebidas como "gnósticas" ao longo da história, todas também marcadas por uma metafísica dualista.


NOTAS
[1] http://alvarohauschild.blogspot.com/2021/06/varia-what-is-hermeticism-meister.html
http://alvarohauschild.blogspot.com/2021/08/varia-genese-biblico.html

sábado, 4 de setembro de 2021

As Duas Loucuras na Arte

John Bauer, um exemplo de arte curativa

A loucura é um assunto clássico do pensamento ocidental. Platão, no Fedro, distingue dois tipos de loucura (mania): uma má, contrária à razão, que levaria aos excessos dos prazeres, por exemplo na atração homossexual (a atração erótica pelo mesmo sexo é contrária à sua função natural, que é procriar); e outra boa, “divina”, que se divide em quatro subtipos: a profética (apolínea), a iniciática (dionisíaca), a poética (inspirada pelas musas) e a erótica (inspirada por Eros). Mais recentemente Michel Foucault, em Folie et Déraison (1961), analisa o conceito de loucura tomando por base o método fenomenológico de “alteridade”; o que seria um trabalho psicológico se torna mais um trabalho sociológico que visa captar a linguagem pela qual os homens são arbitrariamente excluídos da sociedade.

Podemos, ainda, considerar a arte como uma instância da loucura. Platão já incluíra, de alguma maneira, a arte nessa loucura “boa”. Em sua época, todas as artes tendiam a buscar em algum sentido o bom e o belo e, por isso, o harmônico ou racional, e neste sentido se inserem na loucura boa ou divina, porque elevam, curam, tranquilizam, reordenam a alma humana. Mas hoje não podemos mais ser tão coniventes com a arte; as técnicas tomaram a sociedade moderna, hoje tudo é essencialmente técnico, e sendo técnico tudo está dotado de intencionalidade daquele que produz e daquele que utiliza. Vivemos em uma sociedade em permanente construção, controle, manutenção, a própria ordem já não se assenta apenas na natureza, mas depende de um bom uso da técnica. É por isso que hoje devemos discutir a boa e a má loucura dentro da arte moderna.

Todas as artes lidam com o fantástico e são já, nesse sentido e por definição, uma loucura. Não é possível criar algo que não seja em algum sentido artificial, que não se distinga do puramente natural. Toda arte visa montar sobre o natural, transcendê-lo. Mas então surgem dois comportamentos distintos por parte dos artistas e daqueles que empregam as artes: primeiro há aqueles que usam o fantástico para destacar aspectos do mundo natural ou que criam artes que se utilizam do mundo natural, não visando corromper seus princípios básicos, racionais; em segundo lugar há aqueles que usam da arte para distorcer a realidade propositalmente, criar novos princípios contrários à natureza e reificá-los por meio da expressão estética[1]. Vou chamar o primeiro de arte curativa e o segundo de arte degenerativa.

 Arte Curativa

A arte curativa é aquela que, usando de engenharia estética, visa resolver contradições do mundo humano com o mundo natural. Para dar um caso bem paradigmático, falemos da divisão sexual. Há artes que enaltecem tanto os aspectos masculinos no homem e tanto os aspectos femininos na mulher que, com certeza, podem ser consideradas loucuras pela intensidade exagerada de seus aspectos. Muitas das esculturas gregas e romanas seguem esta lógica; na literatura gótica este motivo também está bastante presente, por exemplo no Drácula de Bram Stoker, que exagera por um lado a imagética do poder, da força, do intransponível, qualidades masculinas da personagem vampiresca, e por outro a sensibilidade e fragilidade femininas em suas vítimas. Na literatura religiosa nós costumamos ter o mesmo motivo quando se analisa a relação que Deus tem com sua Criação, uma relação de interferência, autoridade, muitas vezes de ira, controle e castigo; a Criação mantém com o Criador uma relação que se repete entre mulher e homem. O símbolo, nestes casos, ajuda a elucidar, apontar para algo essencial, concreto, com lastro na realidade imanente, e assim educa o leitor, muitas vezes curando-o de medos, traumas e uma incapacidade de compreender “o outro”.

Sobretudo no mundo contemporâneo, a arte curativa é fundamental, de importância máxima. Uma vez que tudo é técnica (tekhnê em grego serve tanto para a engenharia quanto para a “arte” em sentido moderno), são necessárias obras que o tempo todo lembrem o homem daquilo que ele é essencialmente. A técnica do mundo contemporâneo é uma maré de esquecimento, de apagamento da visão das essências, de esquecimento e distanciamento do próprio real; nada tão necessário como as artes que levem ao homem de volta para aquilo que ele é, que o coloquem no seu lugar, na sua função cósmica. O papel do masculino, ainda que por meio da arte, deve permanecer masculino, e o papel feminino, da mesma maneira, deve permanecer feminino. O grande desafio dos artistas contemporâneos é criar técnicas que não corrompam essa relação, mas a atualizem sob novas formas. Isso vai desde a literatura até a legislação e o urbanismo – todas estas esferas são técnicas.

O filósofo alemão G.W.F. Hegel já havia pensado em tudo isso. Para ele as formas e os momentos mudam, mas a consciência permanece em seu processo dinâmico e contínuo. As formas se reatualizam, mas não corrompem o real, o saber absoluto não é um arbítrio do sujeito, mas um saber que diz respeito ao real concreto. Assim, a complexidade com que, por exemplo, homem e mulher se relacionam no mundo moderno será diferente da complexidade com que a mesma relação acontece no mundo grego e depois no mundo romano. Mas o homem e a mulher, em si, não se transformam, não deixam de ser homem e mulher, e dessa maneira não perdem a relação essencial que há entre eles. Se no mundo antigo a mulher era submetida pela força, no mundo moderno será pela lei e pela cultura, que por sua vez são construídas por homens[2]. E nisso está a liberdade no idealismo hegeliano, o fato de que cada consciência tem seu lugar natural garantido por uma lei universal.

É evidente que uma arte curativa exige esforço, antes de tudo um estudo, uma reflexão sobre a realidade e, no caso em questão, sobre o que é o masculino e o que é o feminino. Deve-se buscar na realidade, na observação empírica e na tradição clássica os elementos simbólicos que podemos extrair e utilizar na expressão destes dois polos do homem[3]. Quando há uma personagem masculina, deve-se saber dotá-la de características masculinas[4], e o mesmo serve para as personagens femininas. O artista que cura é um sábio, um alquimista, um terapeuta[5], e não é possível sê-lo sem primeiro conhecer o real com a profundidade necessária para poder representar os objetos que aparecem na arte. Os bons escultores são também conhecedores do corpo e perscrutam cada músculo, cada osso, cada movimento antes de imprimi-los em suas obras – do contrário, o objeto tende a não ser o que visa representar. Notemos que estamos falando de arte em sentido genérico, misturando o realismo e o fantástico: na verdade estamos borrando a barreira entre os dois, porque o vampiro no Drácula, pelo menos enquanto expressão enaltecida de traços reais do homem masculino, não deixa de ser “realista” quanto a este objeto em particular, por mais que suas qualidades ultrapassem as do homem comum do qual ele é imagem[6].

Em geral, a arte curativa costuma se tornar um clássico. Se olharmos para a história veremos que todas as artes que permaneceram, sejam fantásticas ou realistas, foram em algum sentido um dispositivo de rememoração da realidade: os deuses em Homero amplificam relações hipotéticas entre homem e mulher, entre pai e filho, entre comandante e súditos etc., os templos greco-romanos satisfaziam a intuição que o homem grego tinha do belo e do harmônico, as catedrais góticas, ainda que bastante diferentes dos templos gregos, da mesma maneira se punham como obras harmônicas para o espírito europeu, não irritando-o mas inspirando-o e dando vazão às suas potencialidades psíquicas. E sobretudo na literatura religiosa encontramos os símbolos mais bem condensados, mais bem trabalhados, refletidos, aprofundados, ainda que também sejam mais abstratos e que possuam uma linguagem mais “estranha” ao público vulgar. Deus, Criação, Adão e Eva, o Éden, em algum sentido condensam em si os elementos de toda a literatura mítica e fantástica posterior.

Arte Degenerativa

Com base no que já foi dito fica fácil compreender o que é a arte degenerativa. Ela é em algum sentido o oposto: ao invés de fazer o homem rememorar quem ele é, como ele é, qual seu papel no mundo, ela visa ofuscar, afastar essa lembrança. E para tomarmos exemplos desse tipo de arte basta lançarmos os olhos para a enxurrada de livros e de exposições artísticas que se fazem nos museus e nas praças atualmente, ou então basta observarmos a arquitetura lúgubre, fria, mórbida que se espalha como selva de pedra nas grandes cidades. Por via de regra, tudo o que é feio ou que não possui preocupação com o belo já é em si degenerativo, porque a experiência do belo é em si um processo curativo, harmonizador, que leva em conta o ambiente onde se insere e o sujeito que presencia a obra neste mesmo ambiente. Uma obra de arte pode ser abstrata, “estranha”, e ainda ser curativa; para ser degenerativa não é necessário ser abstrato nem “estranho”, pode também ser bem concreto e realista[7].

Sobretudo hoje, um dos melhores exemplos para demonstrar a arte degenerativa é apontar para a maneira como se representam os sexos nas artes. O mais comum é o apagamento da divisão sexual entre masculino e feminino[8], mas também temos a distorção da natureza dos sexos com a sobreposição de características masculinas e femininas nas mesmas personagens e, o que não é menos grave, temos a distorção das relações entre os sexos[9].

Ao invés de elevar, purificar, transcender, tornar sutil, a arte degenerativa rebaixa, faz apodrecer, torna tudo deveras imanente e concreto, duro, denso, impenetrável e do qual é impossível fugir. E assim ela não traz uma experiência de harmonia, de leveza, mas incute a angústia, a ansiedade, a sensação de se estar perdido, isolado, sozinho, dividido e decomposto; ela cinde a psique ao invés de unificar e recompor. Ela provoca o estranhamento, a náusea do existencialismo sartreano. Sartre talvez seja o maior representante intelectual dessa arte degenerativa; sua filosofia é a degeneração cristalizada, o ódio ao homem, ao mundo, o ressentimento de ser o que ele é diante de um mundo que é melhor do que ele. Sartre quis que todos se sentissem imundos e pútridos como ele se sentia ao se olhar no espelho ou se comparar com outras pessoas com belos rostos, por isso quis que todos experimentasse o absurdo que era ser um Sartre. É precisamente daí que vem toda a parafernália intelectual que deu suporte a uma ostensiva produção de arte degenerativa da segunda metade do século XX para cá. O modelo neoliberal viu em Sartre um poderoso instrumento de dissolução de povos, de psiques, de comunidades, de Estados, e não poupou esforços na promoção de tudo o que degenera, enfraquece, apodrece, dissolve com vistas a dominar e imperar pelo dinheiro e pelo poder policial. O absurdismo, que deu suporte intelectual à arte degenerativa, é a ideologia do esquecimento permanente, a luta pela perdição da alma contra tudo o que eleva e cura. Assim, uma maneira de compreender a arte degenerativa é estudando Sartre e sua fenomenologia do absurdo.

Conclusão

Analisamos dois tipos de loucura, isto é, o fantástico na arte. Um nós definimos como arte curativa e o outro como arte degenerativa. Os dois manipulam a realidade, em algum sentido “distorcem” ela; mas enquanto o primeiro tipo o faz sem corromper a realidade, o segundo o faz corrompendo-a. A experiência que o sujeito tem na primeira arte é positiva, a arte o eleva, o unifica, o harmoniza, enquanto que a experiência que ele tem na segunda arte é negativa, a arte o rebaixa, o decompõe, introduz a desordem em sua psique. Se usarmos um conceito grego para defini-las, diríamos que a primeira é racional e a segunda é irracional.

NOTAS

[1] Karl Marx havia analisado esse fenômeno da reificação no processo capitalista: o produto do capital é artificial, ele se torna uma necessidade fabricada, falsa, ilusória, e seduz a sociedade a consumir. É o fetiche (um impulso patológico) que impulsiona o capital.

[2] Para Hegel, bem como para todos os idealistas e românticos, o masculino estava essencialmente ligado à esfera pública e à lei, enquanto ao feminino se reservava a esfera privada e a religião (os Lares). Isso define a sociedade moderna ideal hegeliana, que não transforma essencialmente o mundo grego, mas o reatualiza, resgata sob novas formas civilizacionais.

[3] Aqui deve-se ler “Homem” em sentido genérico, e utilizo o termo por uma questão de gosto e etimologia. “Ser humano” me parece uma aberração moderna, uma gambiarra linguística, e por isso busco evitar ao máximo, ainda que talvez pareça mais claro ao leitor vulgar.

[4] Infelizmente as autoras raramente conseguem esta proeza. Por exemplo em Frankenstein, de Mary Shelley, Robert Walton, não fosse o nome, poderia ser uma mulher pois tem todos os traços psíquicos de uma mulher: sofre com solidão, paranoia, baixa auto-estima, insegurança, busca o consolo, o conforto, e possui uma compaixão bastante exagerada.

[5] Com um propósito mais claro na terapia podemos citar o romance de formação e, como seu maior exemplar, o Wilhelm Meister de J.W. Goethe.

[6] Também temos que levar em conta que os objetos no Drácula possuem múltiplos significados simultaneamente; o vampiro não é feito para ser a mera representação de um homem; esta personagem induz a muitas interpretações simbólicas, sociais e psicológicas que, contudo, não negam a natureza psíquica de seu fundamento, que é em algum sentido um homem (e na própria história o vampiro foi, uma vez, um homem, sua natureza se deu em cima da matéria masculina, a partir dela).

[7] As obras de Marcel Duchamp são realistas e ainda sim horríveis, desarmônicas, toscas, rasas, degenerativas.

[8] Um exemplo são as pichações de “Os Gêmeos”, que deveriam estar presos por depredarem o patrimônio público pelo mau-gosto que espalham nas grandes cidades mundo afora.

[9] Um caso de se citar aqui talvez seja o assim intitulado Cinquenta Tons de Cinza; ele não distorce a natureza dos sexos em si, mas as relações entre eles: ao invés de termos relações de proteção, unidade, cumplicidade, amor e frutificação, temos relações externas de exploração entre os sexos; esse tipo de literatura se torna ainda mais perigoso porque seu ardil é muito mais sutil e apela mais facilmente aos jovens que vivem a explosão dos hormônios. No mais, podemos citar quase tudo o que se produz hoje nas telenovelas, música pop etc.: é sempre uma mulher que comanda e homens que obedecem e meramente acompanham; a relação hierárquica foi totalmente invertida.

sexta-feira, 20 de agosto de 2021

(VARIA) Gênese bíblico

Gustave Doré

O Gênese bíblico é de longe o mito mais comentado, interpretado e transmitido da história devido à riqueza inesgotável de seus aspectos. Dele derivam metafísica, sociologia, política, biologia, mas também as mais profundas inspirações místicas que se fragmentam em alquimia, cabala, hermetismo. Não é possível encontrar uma grande teoria em qualquer das grandes ciências sem encontremos no Gênese um conceito ou uma ideia primordial, uma semente e um precedente da qual ela deriva. Deixo abaixo dois vídeos (em inglês): Genesis 3b: The Fall (canal InspiringPhilosophy) discute especificamente as passagens referentes ao pecado original e à queda de Adão e Eva, trazendo interpretações contemporâneas diversas para enriquecer o estudo; The Genesis Story | Lecture One (canal Hillsdale College) é uma primeira aula sobre o mito, abrindo o livro nas primeiras passagens sobre a criação do mundo e, sobretudo, de Adão e Eva.






sexta-feira, 18 de junho de 2021

(VARIA) What is Hermeticism?/ Meister Eckhart & Christian Mysticism

Gustave Doré

É muito difícil encontrar bons materiais voltados ao grande público sobre temas como hermetismo e misticismo. Abaixo seguem dois documentários (em inglês) publicados no canal Let's Talk Religion, no Youtube.

'What is Hermeticism?'



'Meister Eckhart & Christian Mysticism'

quarta-feira, 2 de junho de 2021

(VARIA) The Oval Portrait

Ilustração: Jean Paul Laurence

Lendo a obra de Edgar Allan Poe, deparei-me com um conto especial: The Oval Portrait. Um conto bastante curto e bastante denso, com pouca trama e muita descrição, basicamente visando manifestar em seu todo uma ideia fixa do autor, um ideal. O próprio conto pode ser lido como um mito, neste sentido, não apenas como uma estória fantástica comum. Ele diz sem dizer, ele diz apontando, mostrando, revelando.

Em uma análise usual poderíamos destacar no conto o combate entre natureza e cultura, entre vida e arte, entre o feminino e o masculino, em que o segundo, i.e. a cultura, a arte e o homem, sai vitorioso. Disso nasce a superioridade em poder do sublime sobre o belo, a vida pública sobre a privada, a grandeza sobre a pequenez, a força sobre a fragilidade. Tudo isso está já largamente discutido no romantismo inglês (especialmente em Edmund Burke) e no idealismo alemão (especialmente em Kant, mas também em Hegel). Porém, o conto permite ir além, existe um conceito transcendente de beleza que o autor desenvolve, idealizando-a, purificando-a e eternizando-a através da arte -- a vida, a natureza e o feminino são eternizados através de uma amortização, de uma passagem ascética através da morte imposta pelo gênio.

Em busca de alguma animação/filme que estivesse à altura do próprio conto, não encontrei. Mas encontrei uma animação digna de ser transmitida, bem elaborada, produzida por Lucas Zbinden. Segue abaixo.